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Tanzânia em risco de isolamento regional: Apenas quatro chefes de Estado comparecem à investidura fechada de Samia Suluhu

Presidente eleita da República Unida da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, e os quatro chefes de Estado que compareceram na cerimónia de investidura.
Em um momento de tensão e simbolismo, a Presidente Samia Suluhu Hassan tomou posse para o seu segundo mandato como líder da Tanzânia, numa cerimónia atípica realizada num campo de desfile militar na capital administrativa, Dodoma. O evento, marcado por um forte aparato de segurança, restrições ao público e interrupções intermitentes na internet, destacou-se pela presença limitada de líderes regionais, apenas quatro chefes de Estado africanos, contrastando com as investiduras anteriores, que costumavam atrair multidões em estádios e ampla representação diplomática. A baixa adesão de vizinhos chave, como o Quénia e Uganda, foi interpretada por analistas como um sinal de isolamento diplomático, agravado pelas críticas internacionais ao processo eleitoral violento e contestado de 29 de Outubro.

A cerimónia, transmitida em directo pela televisão estatal TBC mas fechada ao público geral, ocorreu num ambiente de controlo rigoroso, com um toque de recolher noturno ainda em vigor em Dar-es-Salaam e outras cidades. Diferentemente das posses tradicionais, que se assemelhavam a festas populares da democracia em recintos desportivos lotados, esta investidura reflectiu as cicatrizes de uma eleição marcada por protestos mortais, alegações de fraude e repressão à oposição. A Presidente Hassan, a primeira mulher eleita para o cargo no país, prestou o juramento perante o Chefe de Justiça George Masaju, prometendo "servir todos os tanzanianos com unidade e justiça". Vestida com o seu icónico lenço vermelho e óculos escuros, ela elogiou a Comissão Eleitoral pela "eficiência inquestionável" do processo e expressou pesar pelas "vidas perdidas e destruição de propriedade", atribuindo os distúrbios a "elementos externos" e não aos cidadãos tanzanianos.

A vitória de Hassan foi declarada no dia 1 de Novembro pela Comissão Nacional Eleitoral (NEC), com a candidata do Chama Cha Mapinduzi (CCM), o partido no poder desde a independência em 1961, a conquistar 97,66% dos votos, equivalentes a cerca de 31 milhões de sufrágios de um total de 37,6 milhões de eleitores registados. A taxa de participação rondou os 87%, mas o pleito enfrentou pouca oposição real: rivais chave, como Tundu Lissu da CHADEMA (o principal partido de oposição) e Luhaga Mpina da ACT-Wazalendo, foram desqualificados ou presos por acusações de traição e recusa em assinar um código de conduta. O segundo lugar coube a Salim Mwalimu da Chaumu, com apenas 0,65% (213.414 votos). O CCM também garantiu uma maioria avassaladora no Parlamento, com 270 dos 272 assentos.

Internacionalmente, observadores da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), da qual a Tanzânia é membro, emitiram um comunicado forte, afirmando que "na maioria das áreas, os eleitores não puderam expressar a sua vontade democrática", citando restrições à oposição e indícios de enchimento de urnas. A oposição CHADEMA, excluída do escrutínio por não assinar o código, qualificou os resultados como "fabricados" e reportou pelo menos 800 mortes em confrontos pós-eleitorais com forças de segurança. Fontes diplomáticas e o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos corroboram pelo menos 500 a 700 vítimas, incluindo prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados e tiroteios em cidades como Dar es Salaam, Arusha e Mwanza. A Anistia Internacional e a Human Rights Watch denunciaram um "padrão de repressão", com mais de 200 casos de desaparecimentos desde 2019.

O governo tanzaniano respondeu com um apagão de internet nacional, restaurado brevemente apenas para anunciar a vitória de Hassan antes de ser cortado novamente, e o envio de tropas para conter protestos que se espalharam para o território queniano, onde manifestantes bloquearam estradas e queimaram cartazes da Presidente. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, expressou "profunda preocupação" com as mortes e feridos, apelando à contenção, enquanto a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, instou as autoridades a preservarem vidas.

Presença regional limitada: Quatro chefes de estado em destaque

A imagem anexa à cobertura inicial do evento, partilhada em redes sociais e pela TBC, capturou o essencial da delegação africana: apenas quatro chefes de Estado marcaram presença, aplaudindo Hassan num gesto de solidariedade selectiva, mas realçando o boicote implícito de aliados tradicionais. Os líderes presentes foram:
  • Évariste Ndayishimiye, Presidente do Burundi: Vizinho directo com laços históricos profundos, Ndayishimiye viajou de Bujumbura para reforçar a cooperação na Comunidade da África Oriental (EAC), apesar das tensões regionais.
  • Hakainde Hichilema, Presidente da Zâmbia: Chegou a Dodoma num jacto presidencial, partilhando um apelo por "diálogo" no seu discurso, inspirado nas próprias transições pacíficas do seu país. Hichilema enfatizou que "quando nações enfrentam desafios, a mesa do diálogo é o caminho mais eficaz".
  • Hassan Sheikh Mohamud, Presidente da Somália: Apesar de críticas internas por priorizar viagens diplomáticas em meio a ameaças do Al-Shabaab, Mohamud destacou a "estabilidade" da Tanzânia como modelo para a região do Corno de África.
  • Daniel Francisco Chapo, Presidente de Moçambique: Recém-eleito em 2024 e também a sua investidura, em janeiro de 2025, foi restrita ao público, Chapo, convidado de honra, representou a SADC e elogiou a "visão" de Hassan, focando em laços económicos como o corredor de Nacala.
Outros participantes incluíram figuras proeminentes como Dominic Chiwenga, Vice-Presidente do Zimbabué; Emmanuel Nchimbi, Vice-Presidente da Tanzânia e companheiro de chapa de Hassan; Floribert Anzuluni, Ministro da Integração Regional da República Democrática do Congo (RDC); Hussein Ali Mwinyi, Presidente de Zanzibar (o arquipélago semi-autónomo onde Hassan nasceu); Jakaya Kikwete, ex-Presidente da Tanzânia e mentor político; **Jessica Alupo, Vice-Presidente de Uganda; Moestadrine Abdou, ex-Presidente da União dos Comoros; e Kithure Kindiki, Vice-Presidente do Quénia, representando o Presidente William Ruto, uma presença notável dada a ausência de chefes de Estado do Quénia, Uganda, Ruanda e RDC, interpretada como "frieza diplomática" por observadores.

A ausência de líderes como William Ruto (Quénia) e Yoweri Museveni (Uganda), países com fortes laços comerciais e membros na EAC, foi particularmente chamativa, especialmente após protestos transfronteiriços. Analistas ligam isso às preocupações com a repressão tanzaniana, que manchou a imagem de Hassan, outrora elogiada por suavizar o autoritarismo do antecessor John Magufuli (falecido em 2021).

Discurso de Hassan: Apelo à unidade e promessas de normalidade

No seu discurso de investidura, Hassan ordenou às autoridades "restaurar imediatamente a normalidade nas vidas das pessoas", prometendo investigar os incidentes e assegurando que "a segurança da Tanzânia não está em debate, usaremos todos os meios disponíveis". Falando como "líder e mãe da nação", apelou aos manifestantes para escolherem o diálogo sobre a violência, alertando que "o caos leva apenas a dor e divisão". Ela negou culpas internas, culpando "não-tanzanianos" pelos protestos, e reiterou o compromisso com a infraestrutura, educação e estabilidade económica que marcaram o seu primeiro mandato.

Hassan, de 65 anos e oriunda de Zanzibar, assumiu o poder em 2021 como Vice-Presidente após a morte de Magufuli, tornando-se a primeira mulher e a primeira zanzibarita no cargo. Inicialmente vista como reformista, aliviando proibições à COVID-19 e abrindo espaço para a oposição, enfrentou acusações de retrocesso com prisões de activistas e censura, incluindo proibições ao X (antigo Twitter) e ao fórum digital JamiiForums.

Esta investidura restrita ao público representa um teste para a Tanzânia, outrora "oásis de estabilidade" na África Oriental. Organizações como o International Crisis Group alertam para um "afunilamento do espaço político", com o CCM a consolidar o poder num contexto de declínio democrático continental. Economicamente, o país arrisca sanções ou perda de investimento, mas Hassan prometeu "unir o país e não destruir o que construímos em seis décadas".

Enquanto a internet permanece instável e universidades adiam matrículas, a reacção internacional cresce: a UE e os EUA questionam a transparência, e a SADC pode convocar uma cimeira de emergência. Para Hassan, o mandato inicia-se com o desafio de restaurar a confiança interna e regional, um equilíbrio delicado entre controlo e reconciliação.

ALGUMA IMAGENS DA INVESTIDURA DE SAMIA SULUHU HASSAN










Redação: Índico Magazine 

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