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RENAMO afirma ter moldado a imagem de Venâncio Mondlane — “Nós fizemos a imagem de Venâncio”


O porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Marcial Macome, minimizou a ascensão do Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS) e do seu ex-aliado Venâncio Mondlane, reiterando que a RENAMO permanece como o maior partido da oposição em Moçambique e que Ossufo Momade continua a ser o principal líder opositor do país. Segundo Macome, a notoriedade de Mondlane é fruto da própria RENAMO: "Nós fizemos a imagem de Venâncio", declarou.


A declaração ocorre em meio a fortes tensões internas na RENAMO, com guerrilheiros exigindo a saída de Ossufo Momade e queimando materiais de propaganda com sua imagem em diversas províncias. Buscando desvalorizar essas manifestações, Macome recordou que até Afonso Dhlakama, o histórico líder da RENAMO, enfrentou contestações durante sua liderança: "Até Dhlakama foi contestado."


Apesar de o Podemos ter superado a RENAMO em número de assentos parlamentares nas eleições gerais de 9 de outubro de 2024, Macome insistiu na relevância histórica e política do seu partido: "O Podemos pode ser a segunda maior força política na Assembleia da República, mas a RENAMO continua sendo o maior partido da oposição e Ossufo Momade é o maior líder do partido da oposição em Moçambique", afirmou.


Venâncio Mondlane deixou a RENAMO em maio de 2024 após desentendimentos com a liderança, sobretudo com Momade, que o impediu de ser o candidato presidencial do partido. Desde então, Mondlane emergiu como uma figura central da oposição moçambicana, liderando fortes contestações aos resultados eleitorais que declararam Daniel Chapo, da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), como vencedor.


Baseado em uma contagem paralela, Mondlane afirma ter obtido 70% dos votos, em contraste com os 24% atribuídos oficialmente pelo Conselho Constitucional. Suas convocações para protestos resultaram em manifestações violentas, com cerca de 353 mortos e milhares de feridos desde outubro de 2024, segundo dados da plataforma Decide.


O rápido crescimento do PODEMOS — de partido extraparlamentar a principal força da oposição, com 51 deputados contra 28 da RENAMO — expôs a perda de influência do partido fundado por Afonso Dhlakama. Analistas associam essa crise à liderança de Momade, caracterizada como pouco carismática e marcada por decisões controversas, como a exclusão de Mondlane. "A RENAMO foi enfraquecida pela morte de seu líder histórico e pela nomeação de um ex-general da guerrilha como novo presidente, Ossufo Momade, que demonstrou falta de iniciativa e liderança," observou a Revista Movimento.


Marcial Macome atribuiu o sucesso de Mondlane ao apoio e à plataforma oferecidos pela RENAMO durante seu período no partido. Após integrar a RENAMO em 2018, vindo do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Mondlane ganhou notoriedade ao liderar campanhas eleitorais em Maputo, contestando resultados em 2018 e 2023.


"A RENAMO moldou a imagem de Venâncio Mondlane, proporcionando-lhe uma plataforma para se destacar," reforçou Macome, defendendo a ideia de que Mondlane deve sua projeção política à estrutura partidária que o acolheu e o promoveu.


Entretanto, após ser preterido na corrida presidencial de 2024, Mondlane aliou-se ao Podemos, organizando uma campanha moderna, marcada pelo uso estratégico de tecnologias de contagem de votos, o que lhe garantiu forte apoio urbano e entre os jovens eleitores.


O crescente descontentamento interno — simbolizado pela queima de materiais de propaganda de Momade em províncias como Nampula e Sofala — evidencia a insatisfação da base da RENAMO. Guerrilheiros e antigos militantes criticam Momade por uma suposta aproximação à Frelimo e pela incapacidade de revitalizar o partido.


Apesar disso, Macome insiste que a RENAMO mantém sua coesão e resiliência: "A RENAMO é um partido com raízes profundas, que sobreviveu a desafios maiores, incluindo a guerra civil e a perda de Dhlakama. Continuaremos a lutar pela democracia em Moçambique."

O ambiente político em Moçambique permanece tenso. Mondlane, que anunciou em fevereiro de 2025 o rompimento com o PODEMOS, está agora no processo de formação de um novo partido, denominado ANAMALALA.

Para a RENAMO, analistas apontam que o desafio é profundo: superar divisões internas e encontrar uma liderança mais dinâmica para reconquistar a confiança do eleitorado, especialmente entre os jovens. "A RENAMO precisa de uma renovação profunda para reconquistar a confiança dos eleitores, especialmente das gerações mais jovens, que veem em Mondlane uma alternativa mais moderna e combativa," avalia Eric Morier-Genoud, professor da Queen’s University Belfast.

Enquanto isso, a FRELIMO consolida seu domínio, com Daniel Chapo empossado em 15 de janeiro de 2025, apesar das contestações. O acordo de reformas estatais, assinado em março de 2025 após iniciativa do ex-presidente Filipe Nyusi, foi rejeitado por Mondlane como um "diálogo sem povo", reforçando sua posição como outsider da política tradicional.


Redação: Índico Magazine || Fonte: Dossier & Factos|| Siga o canal 🌐 Índico Magazine 🗞️📰🇲🇿 no WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VafrN6E8aKvAYGh38O2p