Ticker

6/recent/ticker-posts

Afro-americanos exigem renúncia do General Langley por suposta conspiração contra o presidente Traoré de Burkina Faso


Um movimento crescente entre ativistas e comunidades afro-americanas está exigindo a renúncia do General Michael Langley, chefe do Comando dos Estados Unidos para a África (AFRICOM), após alegações de uma conspiração orquestrada pelo Ocidente contra o Presidente de Burkina Faso, Capitão Ibrahim Traoré. As acusações têm origem nas declarações controversas de Langley durante uma audiência no Comitê de Serviços Armados do Senado dos EUA em 3 de abril de 2025, onde ele acusou Traoré de usar indevidamente as reservas de ouro de Burkina Faso para segurança pessoal, em vez de promover o desenvolvimento nacional. Essas declarações provocaram indignação em toda a África e sua diáspora, com muitos rotulando-as como evidência de uma agenda imperialista mais ampla para desestabilizar a soberania de Burkina Faso.


Durante a audiência no Senado, o General Langley afirmou que Traoré estava desviando as reservas de ouro de Burkina Faso, avaliadas em US$ 4 bilhões, para proteger seu regime, em vez de beneficiar os 22 milhões de cidadãos do país. Ele também sugeriu que as receitas da cooperação de Burkina Faso com a China não estavam chegando à população. Essas declarações foram rapidamente condenadas pelo governo de Burkina Faso, com o Ministro das Relações Exteriores, Karamoko Jean Marie Traoré, emitindo uma refutação formal em 15 de abril de 2025, denunciando as alegações de Langley como “errôneas” e uma tentativa de minar as políticas soberanas de Burkina Faso. O ministro destacou as reformas em andamento na agricultura, educação e governança pública sob a liderança de Traoré, enfatizando a gestão transparente das receitas de mineração.

As alegações ressoaram profundamente nas comunidades afro-americanas, que veem paralelos entre o discurso de Langley e as intervenções ocidentais históricas na África. As plataformas de mídia social, especialmente o X, amplificaram esses sentimentos, com postagens acusando Langley de servir como um “rosto negro” para o imperialismo ocidental. Um usuário escreveu: “Quando imperialistas brancos querem eliminar líderes africanos, eles usam um rosto negro. Esse homem quer que Ibrahim Traoré, um grande líder africano, seja morto. Vamos expor esse mentiroso americano negro.” Outra postagem afirmou: “A América está atrás de Ibrahim Traoré para eliminá-lo, assim como mataram Gaddafi. Se a América tocar em Traoré, a UA deve considerar isso uma declaração de guerra contra a África.”


Ativistas, intelectuais e líderes comunitários afro-americanos se uniram em apoio a Traoré, vendo sua liderança como uma resistência ousada ao neocolonialismo. Traoré, que assumiu o poder em um golpe de 2022, priorizou a nacionalização da indústria de ouro de Burkina Faso, a expulsão de tropas francesas e a criação de parcerias com Rússia e China – ações que o posicionaram como um símbolo da soberania africana. Suas políticas, incluindo a construção da primeira refinaria de ouro doméstica de Burkina Faso em 2023, visam reter a riqueza no país e reduzir a dependência de corporações estrangeiras.

O pedido pela renúncia de Langley ganhou força após relatos de uma tentativa de golpe frustrada contra Traoré em 16 de abril de 2025, supostamente coordenada a partir da Costa do Marfim, um aliado dos EUA. O Ministro da Segurança de Burkina Faso, Mahamadou Sana, afirmou que o complô visava “semear o caos” e colocar o país sob supervisão internacional. Muitos comentaristas afro-americanos relacionaram esse incidente ao testemunho de Langley no Senado, interpretando-o como parte de um “manual de mudança de regime” ocidental, semelhante à intervenção de 2011 na Líbia, que levou à morte de Muammar Gaddafi.

No X, usuários afro-americanos expressaram frustração com Langley, acusando-o de trair os interesses africanos. Uma postagem dizia: “PESSOAS COMO O GEN. LANGLEY DEVEM SER DENUNCIADAS PELOS AFRO-AMERICANOS AGORA. ISSO ME DEIXA MUITO BRAVO, MAS NÃO SURPRESO COM A POSIÇÃO ‘SUPREMACISTA BRANCA’ DE MICHAEL LANGLEY.” O sentimento reflete uma crítica mais ampla a figuras militares afro-americanas percebidas como alinhadas com a política externa dos EUA contra a autodeterminação africana.


As alegações de conspiração contra Langley giram em torno de seu papel como comandante do AFRICOM e da estratégia geopolítica mais ampla dos EUA no Sahel. Burkina Faso, ao lado de Mali e Níger, formou a Aliança dos Estados do Sahel (AES), um pacto de defesa mútua voltado para combater o terrorismo e a intervenção estrangeira. A expulsão de tropas francesas pela AES e a rejeição da presença militar ocidental aumentaram as tensões com os EUA e seus aliados.

Críticos argumentam que as acusações de Langley contra Traoré fazem parte de um esforço coordenado para justificar intervenções ou sanções contra Burkina Faso, especialmente à medida que o governo de Traoré aprofunda os laços com Rússia e China. Os EUA expressaram preocupação com a crescente influência da Rússia no Sahel, particularmente por meio do Grupo Wagner, e com as parcerias econômicas da China, que desafiam a hegemonia ocidental. Alguns ativistas afro-americanos especulam que o testemunho de Langley tinha como objetivo preparar o terreno para desestabilizar o regime de Traoré, citando precedentes históricos como o envolvimento da CIA em golpes africanos.

No entanto, essas alegações de conspiração permanecem especulativas. Embora as declarações de Langley tenham alimentado a desconfiança, não surgiram evidências concretas que o liguem diretamente a um complô de golpe ou tentativa de assassinato contra Traoré. Os relatórios do governo de Burkina Faso sobre tentativas de golpe apontam para dissidência militar interna e atores regionais, como ex-oficiais na Costa do Marfim, em vez de envolvimento direto dos EUA.


Traoré conta com amplo apoio entre a juventude africana e a diáspora por sua postura anti-imperialista e esforços para recuperar os recursos nacionais. O partido Lutadores pela Liberdade Econômica (EFF) da África do Sul condenou as alegações de Langley como “interferência imperialista”, defendendo as políticas de Traoré como passos rumo à independência econômica. Em Burkina Faso, manifestações públicas, como o comício de 30 de abril de 2025 na Place de la Révolution, demonstraram amplo apoio doméstico a Traoré.

A solidariedade afro-americana com Traoré está enraizada em uma história compartilhada de resistência à opressão sistêmica. Ativistas traçam paralelos entre a luta de Traoré pela soberania e a luta afro-americana contra a injustiça racial e econômica. A exigência pela renúncia de Langley é enquadrada como uma rejeição à cumplicidade em agendas ocidentais que minam a autodeterminação africana.

Nem o General Langley nem o AFRICOM responderam aos pedidos por sua renúncia até 2 de maio de 2025. Os EUA mantiveram uma postura crítica em relação ao governo de Traoré, com autoridades alertando contra alianças com a Rússia e enfatizando a necessidade de um retorno ao governo civil até julho de 2024, conforme acordado com a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Os críticos de Langley argumentam que sua posição como general afro-americano complica a narrativa, com alguns o acusando de ser um “peão” para os interesses dos EUA. Outros, no entanto, alertam contra personalizar a questão, apontando para as dinâmicas estruturais mais amplas da política externa dos EUA na África.


A exigência pela renúncia do General Langley reflete frustrações profundas entre afro-americanos e africanos sobre a percebida interferência ocidental nos assuntos africanos. Embora as alegações de uma conspiração contra Traoré permaneçam sem provas, as declarações de Langley intensificaram a desconfiança nas intenções dos EUA no Sahel. A controvérsia destaca a crescente divisão entre as potências ocidentais e as nações africanas que afirmam sua soberania, com Traoré emergindo como uma figura polarizadora, mas influente, nessa luta geopolítica.

À medida que a situação evolui, a defesa da comunidade afro-americana por Traoré e contra Langley destaca o papel da diáspora na formação de narrativas sobre a autodeterminação africana. Se esses apelos levarão a resultados concretos, como a renúncia de Langley, ainda é incerto, mas sinalizam uma pressão mais ampla por responsabilidade nas relações EUA-África.


Redação: Índico Magazine|

Junte-se ao canal 🌐 ÍNDICO MAGAZINE 🗞️📰🇲🇿 no WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VafrN6E8aKvAYGh38O2p