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Venâncio Mondlane, presidente interino da ANAMOLA. |
Venâncio Mondlane, presidente interino da Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (ANAMOLA), surpreendeu apoiantes e analistas políticos ao declarar publicamente que não aspira a perpetuar sua própria liderança no partido que fundou recentemente. Em uma declaração franca e reflexiva, proferida durante um evento recente em Maputo, Mondlane enfatizou a necessidade de sucessão geracional, destacando jovens líderes como Dinis Tivane e o novo secretário-geral como exemplos de uma nova era para a formação política. "
Eu não quero que haja um Venâncio Mondlane, eu quero que haja alguém superior ao Venâncio Mondlane", afirmou o ex-candidato presidencial, que tem sido uma das figuras centrais da oposição moçambicana desde as eleições de 2024.
Mondlane, cuja liderança emergiu como símbolo de resistência às eleições contestadas e aos protestos subsequentes que resultaram em centenas de mortes, usou o momento para reforçar o compromisso da ANAMOLA com a renovação e a meritocracia. Ele elogiou abertamente Dinis Tivane, porta-voz e assessor político do partido, descrevendo-o como "um jovem, muito mais jovem do que eu, muito inteligente, muito criativo". Tivane, que tem desempenhado um papel crucial na estruturação inicial da ANAMOLA, incluindo a coordenação do primeiro Conselho Nacional realizado em setembro na Beira, foi apresentado por Mondlane como um dos pilares da sucessão. "É por isso que eu tenho pessoas tão inteligentes como o Dinis Tivane, por exemplo", acrescentou o líder, sublinhando como a presença de talentos como o de Tivane garante a vitalidade do partido.
A declaração de Mondlane vai além de um simples elogio: ela reflete uma visão estratégica para o futuro da ANAMOLA, que foi oficialmente registada pelo Ministério da Justiça em agosto de 2025, após uma alteração na sigla inicial de Anamalala para evitar conotações controversas. O partido, que Mondlane preside de forma interina desde a sessão extraordinária da Comissão Executiva em 19 de agosto, planeja realizar seu primeiro congresso em junho de 2026, na província de Nampula, onde serão eleitos os órgãos definitivos, incluindo o presidente. Nesse contexto, Mondlane posiciona a sucessão como um processo democrático e inevitável. "São estes que vão suceder o Venâncio Mondlane, mais novos, com melhor formação, mais inteligentes, mais articulados", declarou, referindo-se explicitamente ao novo secretário-geral, que assume o cargo com apenas 39 anos e uma formação acadêmica "de longe muito superior à minha".
Essa ênfase na humildade e na capacitação de sucessores contrasta com críticas frequentes à perpetuação de lideranças em partidos moçambicanos tradicionais. Mondlane, que rejeitou os resultados eleitorais de outubro de 2024 que deram vitória a Daniel Chapo da FRELIMO, tem usado sua plataforma para promover reformas profundas, incluindo a participação da ANAMOLA no Diálogo Nacional Inclusivo, anunciado em agosto como um dos seis pontos prioritários do plano de atividades do partido para 2025 e 2026. No entanto, sua declaração mais recente vai ao cerne da identidade da ANAMOLA: um movimento que prioriza o coletivo sobre o individual. "Os meus colaboradores são melhores do que eu, são mais inteligentes, são mais capazes, são mais qualificados do que eu", concluiu Mondlane, em uma admissão que ressoa como um chamado à ação para a juventude e aos intelectuais dentro do partido.
Analistas veem nessa postura uma estratégia para consolidar a base da ANAMOLA, que enfrentou desafios iniciais, como o custo de 5,6 milhões de meticais (cerca de 74 mil euros) para o primeiro Conselho Nacional, resultando em um défice de mais de um milhão de meticais. Dinis Tivane, em conferências recentes, tem defendido a transparência financeira e a abertura para candidaturas no congresso de 2026, afirmando que "dentro da formação existem procedimentos normativos a seguir que deverão conduzir às eleições definitivas dos órgãos e dos dirigentes". Essa visão de sucessão geracional pode atrair mais jovens e profissionais qualificados para a ANAMOLA, especialmente em um contexto de tensões políticas persistentes, onde o partido homenageia vítimas como Elvino Dias, assassinado em outubro de 2024, através de iniciativas como a Fundação Elvino Dias.
Mondlane, que inicialmente foi indicado presidente interino ao lado de Alberto Manhique como secretário-geral interino e Tivane como porta-voz, reiterou que sua liderança é transitória. O Conselho Nacional de setembro, na Beira, confirmou essa interinidade e aprovou estruturas como a Aliança Mulher ANAMOLA (AMA), a Associação Juvenil ANAMOLA (AJA) e a Aliança de Ouro (ALO), reforçando o foco em inclusão geracional e de gênero. "Eu não quero que haja um Venâncio Mondlane", repetiu, ecoando um mantra de despersonalização da luta política que ele tem defendido desde os protestos pós-eleitorais.
Essas declarações ocorrem em meio a um cenário de diálogo político mais amplo, onde a ANAMOLA busca posicionar-se como força reformista. Com o congresso de 2026 no horizonte, as palavras de Mondlane sinalizam não o fim de sua influência, mas uma transição intencional para uma liderança "superior", capaz de enfrentar os desafios de um Moçambique em busca de equidade e autonomia. Como observou um analista político local, "Mondlane está construindo um legado que transcende sua pessoa, algo raro na política moçambicana fragmentada". A ANAMOLA, assim, emerge não apenas como oposição, mas como incubadora de talentos para o futuro.