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Reprodução Índico Magazine |
Em um comício vibrante na Vila da Manhiça, província de Maputo, Venâncio Mondlane, líder da oposição moçambicana e da Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (ANAMOLA), celebrou hoje o primeiro aniversário da vitória reivindicada nas eleições gerais de 2024. O evento, inicialmente agendado para a Praça 18 de Maio, foi bloqueado pelas autoridades locais, controladas pela FRELIMO, numa decisão que Mondlane criticou como uma tentativa de reservar espaços públicos exclusivamente para o partido no poder.
No discurso, Mondlane anunciou um feriado nacional em memória de Elvino Dias e Paulo Guambe, assassinados em 19 de outubro de 2024 numa emboscada na Cidade de Maputo [muitos órgãos de informação consideram dia 19 o dia do assassinato, mas ocorreu na noite do dia 18]. Dias, advogado de Mondlane, foi morto com 25 balas, enquanto Guambe, mandatário do PODEMOS, sucumbiu a ferimentos. “Hoje, dia 09 de outubro de 2025, celebramos o primeiro ano de vitória nas eleições gerais de 2024. Mas neste ano, no dia 19, lembramos a morte do advogado do povo Elvino Dias, morto com 25 balas, por isso no dia 19 será feriado, se calhar num domingo na segunda-feira haverá tolerância e se calhar num sábado vamos fazer ponte até segunda-feira. Em memória de Elvino Dias e Paulo Guambe, mortos numa emboscada na Cidade de Maputo, por indivíduos até então desconhecidos,” declarou, arrancando aplausos de centenas de apoiantes.
Alguns imagens captadas no local do comício
Mondlane também abordou questões locais com tom contundente, referindo-se aos frequentes acidentes rodoviários na Manhiça. “
Se há pessoas se alimentando de sangue dos acidentes que ocorrem na Manhiça, isso deve terminar e se continuar, um dia será o sangue dessas pessoas que será derramado,” alertou, prometendo que “
os acidentes acabaram.” Ele aproveitou para projetar um futuro simbólico: “
Quando chegarmos a Ponta Vermelha, passará a se chamar Ponta Verde, em representação às cores do partido ANAMOLA,” referindo-se à residência presidencial e à bandeira verde da ANAMOLA.
Durante o comício, Mondlane destacou a participação de um ancião de 92 anos, conhecido como Jovem Poeta, que emocionou o público com um poema. Num gesto simbólico, Mondlane entregou ao ancião o primeiro cartão de membro biométrico da ANAMOLA no distrito, exortando a população a registar-se para fortalecer o partido. “A ANAMOLA é o maior partido que existe em África e no mundo,” afirmou, enaltecendo a robustez e a ambição do movimento que lidera.
O evento ocorre em meio a tensões persistentes desde as eleições de 2024, cujos resultados oficiais, que deram vitória a Daniel Chapo da FRELIMO, são contestados pela oposição. A emboscada que vitimou Dias e Guambe, classificada como um ato de intimidação política, foi condenada internacionalmente. A Polícia da República de Moçambique confirmou que o ataque envolveu dois veículos armados, deixando Adácia Dionísio Macuacua, a terceira ocupante, ferida. A Ordem dos Advogados de Moçambique e entidades como a União Europeia e os Estados Unidos exigiram justiça, sem que os responsáveis tenham sido identificados até o momento.
A proposta de feriado no dia 19 de outubro, aliada à mobilização para fortalecer a ANAMOLA, reforça a estratégia de Mondlane de manter viva a indignação popular e consolidar sua base de apoio. O comício em Manhiça, apesar das restrições impostas, demonstrou a força do movimento opositor, com cartazes exigindo “Justiça para Elvino e Paulo” e promessas de vigílias pacíficas para o próximo dia 19.