O voo TM191 da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), que deveria ter partido de Lichinga às 11h05 com destino a Maputo, com escala em Nampula, enfrentou uma série de problemas operacionais que deixaram passageiros frustrados e expuseram, mais uma vez, as fragilidades da companhia aérea estatal. O incidente reacendeu debates sobre a gestão da LAM e a possibilidade de privatização.
De acordo com relatos, o voo só decolou de Lichinga às 13h30, já com mais de duas horas de atraso. Ao embarcarem, os passageiros perceberam que as bagagens despachadas não foram carregadas, gerando insatisfação. A aeronave aterrou em Nampula por volta das 14h20, onde mais passageiros embarcaram. No entanto, a tripulação descobriu, apenas nesse momento, que não havia combustível disponível no aeroporto de Nampula. Como solução, foi anunciado que o voo faria uma parada não planejada em Beira para abastecimento.
A situação foi agravada pela falta de serviços básicos e comunicação ineficiente. Passageiros, que aguardavam desde as 9h em um aeroporto sem lanchonete, não receberam sequer água durante o voo, que já acumulava cerca de três horas de duração. A barreira linguística também complicou a interação, uma vez que a tripulação, composta por sul-africanos, falava apenas inglês, dificultando a comunicação com os passageiros moçambicanos.
O incidente do voo TM191 reforça as críticas recorrentes à LAM, que enfrenta problemas crônicos, como atrasos, cancelamentos e dificuldades financeiras. Recentemente, a companhia anunciou uma reestruturação operacional com redução temporária da frota, após a retirada de aeronaves CRJ 900, devido à incapacidade de atender uma demanda diária de 915 passageiros com apenas duas aeronaves de 90 lugares, segundo o porta-voz Alfredo Cossa.
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A gestão da LAM, sob a administração da sul-africana Fly Modern Ark (FMA) desde abril de 2023, tem sido alvo de escrutínio. Apesar de a FMA ter reduzido a dívida da companhia em cerca de 61,6 milhões de dólares em poucos meses, problemas operacionais persistem. Além disso, investigações sobre alegações de corrupção na reestruturação da LAM foram iniciadas pela justiça moçambicana, aumentando a desconfiança sobre a gestão atual.
Passageiros e observadores têm questionado por que a LAM, que já foi uma das maiores companhias aéreas africanas, continua a enfrentar dificuldades estruturais. Um usuário de redes sociais lamentou: “LAM já teve voos diretos para Paris e outros destinos, já foi a maior companhia aérea africana. Hoje nem voos domésticos consegue dar conta.” Outros apontam que os problemas da LAM refletem falhas sistêmicas, semelhantes às enfrentadas por outras estatais moçambicanas, como TDM e Mcel, sugerindo que a gestão estatal, liderada pelo IGEPE, carece de competência para reverter a crise.
A questão da privatização ganhou força com o incidente. Críticos argumentam que a incapacidade de gerir eficazmente a companhia, aliada a problemas como falta de combustível, má comunicação e falhas logísticas, demonstra a necessidade de entregar a LAM a uma gestão privada. “Quando não se consegue, abdica-se. O espírito ganancioso é o mais perigoso. Um dia essa companhia vai provocar grande desgraça”, alertou um passageiro afetado pelo voo TM191.
A LAM, fundada em 1936 como DETA e renomeada em 1980, enfrenta dificuldades financeiras e operacionais há anos. Em 2018, a companhia cancelou voos por falta de combustível, atribuída à “falta de confiança dos fornecedores”, e acumulou dívidas significativas, incluindo 9,4 milhões de dólares com a Petromoc e 600 mil dólares com a Puma Energy. Mais recentemente, a companhia enfrentou um escândalo de desvio de mais de 3 milhões de dólares em pontos de venda de bilhetes, além de uma disputa com a Boeing sobre uma dívida de 4,5 milhões de dólares.
Apesar dos esforços de reestruturação, a LAM continua dependente de uma frota reduzida, composta por um Boeing 737-700 e três Bombardier Q400, complementada por aviões alugados. A subsidiária Moçambique Expresso (MEX) também enfrentou suspensão de operações em 2023 devido a dívidas, embora tenha retomado voos após acordos com a Embraer.
Redação: Índico Magazine || Siga o canal 🌐 Índico Magazine 🗞️📰🇲🇿 no WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VafrN6E8aKvAYGh38O2p