Depois de vários meses ausente dos holofotes, o presidente da RENAMO, Ossufo Momade, reapareceu esta quarta-feira, na Cidade de Maputo, durante a reunião da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (ACOLD), organização social ligada ao partido. O encontro decorre num clima de tensão interna, numa altura em que a sua liderança está a ser fortemente questionada por vozes dissidentes dentro da própria formação política.
A reunião da ACOLD, realizada à porta fechada, visa debater questões relacionadas com os direitos dos antigos combatentes, entre os quais se destaca o tema das pensões para os desmobilizados. No seu pronunciamento, Momade foi enfático ao responsabilizar o Governo pela situação precária em que se encontram muitos ex-combatentes da RENAMO.
“Cabe ao Estado, através do Governo, garantir o pagamento das pensões aos nossos desmobilizados. O nosso papel, como partido, é lutar por isso. Eles deram tudo pela democracia e merecem viver com dignidade”, afirmou Momade, perante um auditório composto por veteranos da luta armada e membros da estrutura partidária.
O líder da RENAMO aproveitou a ocasião para comentar, de forma indireta, os recentes episódios de contestação à sua liderança. Desde as eleições gerais de 2024, Momade tem sido alvo de críticas internas, com alguns membros a pedirem abertamente a sua demissão, acusando-o de afastamento das bases, fragilidade na condução do partido e falta de estratégia política.
“A RENAMO não é um homem, é um projeto político e social. Estou aqui para reafirmar o compromisso com os nossos princípios e com todos aqueles que acreditam numa oposição firme, mas responsável”, disse, evitando referir-se diretamente às pressões para deixar o cargo.
Apesar da presença de Momade, o ambiente na reunião revelou sinais de divisão. Segundo fontes internas, vários combatentes manifestaram insatisfação com o que classificam como “abandono político” por parte da direção da RENAMO. Alguns chegaram a afirmar que o partido está a perder ligação com os seus históricos pilares de apoio.
Um dos participantes, que preferiu manter o anonimato, foi direto:
“O presidente tem de ouvir mais a base. Muitos companheiros estão a viver com dificuldades extremas. As pensões não são um favor, são um direito. E a liderança tem de estar na linha da frente, não escondida”, disse.
Analistas políticos interpretam a reaparição pública de Ossufo Momade como uma tentativa de recuperar legitimidade dentro do partido e responder simbolicamente aos apelos de mudança. No entanto, a pressão interna deve continuar, com rumores a apontarem para possíveis movimentações de renovação nos próximos congressos partidários.
A reunião da ACOLD deve continuar nos próximos dias, podendo resultar num comunicado final com exigências formais ao Governo sobre o processo de reintegração e apoio social aos antigos combatentes.
Redação: Índico Magazine