O presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Ossufo Momade, através do Conselho Jurisdicional, intensificou a sua campanha de purga interna ao ordenar a expulsão de membros opositores das chefias na Assembleia Municipal de Tete, acusados de participarem no fecho de delegações políticas e em campanhas de desacreditação contra a sua liderança. A Delegação Política da cidade de Tete procedeu à substituição das chefias da bancada e das comissões de trabalho, com o presidente da assembleia a formalizar a entrada de novos membros, em conformidade com o documento submetido pelo partido. Esta ação, que afeta diretamente figuras críticas à direção de Momade, é vista como mais um episódio na "
caçada implacável" a dissidentes internos, agravando a crise no maior partido de oposição moçambicano após o fraco desempenho nas eleições de 2024.
Os membros afastados dos cargos de liderança – mas que mantêm os seus mandatos como deputados municipais – incluem Marcos Sairosse Saene, que deixa a presidência da Comissão de Juventude, Cultura e Desporto, passando a membro simples; Maria Georgina Pascoal, que abandona a mesa da Assembleia Municipal, também rebaixada a membro simples; e Black Alberto Joaquim, ex-vice-chefe da bancada, agora reduzido ao mesmo estatuto. A RENAMO justifica as mudanças com a "necessidade de reforçar a disciplina interna e garantir maior coesão na atuação dos seus representantes", mas fontes internas e analistas políticos interpretam-nas como retaliação direta contra vozes críticas que questionam a gestão de Momade, especialmente após protestos de ex-guerrilheiros que exigem a sua demissão.
Esta substituição em Tete ecoa ações semelhantes em outras regiões, como na Assembleia Municipal da Matola, onde nove membros foram expulsos de forma "ilegal" por alegada perseguição política, e em Nampula, onde denúncias de renúncias forçadas foram associadas a críticas à liderança de Momade. Em Tete, a província com histórico de contestações internas à RENAMO – incluindo manifestações em 2020 contra Momade por "má gestão e clientelismo” –, os afetados são acusados de envolvimento no fecho de delegações e na disseminação de narrativas que minam a autoridade do líder, conhecido como o "líder da perdiz". Analistas como Teresa Boene, do Centro de Integridade Pública (CIP), classificam estas medidas como "estratégia de consolidação de poder", alertando que podem levar à fragmentação do partido, semelhante a divisões vistas em outros contextos africanos.
Momade, reeleito em maio de 2024 num congresso contestado, enfrenta uma onda de dissidências desde a morte de Afonso Dhlakama em 2018. O partido, que caiu para terceiro lugar nas eleições gerais de 2024 com apenas 6,62% dos votos presidenciais para Momade, perdeu influência nas assembleias provinciais e municipais. Ex-guerrilheiros invadiram sedes em maio de 2025, exigindo a renúncia de Momade por "má gestão" e falta de pensões, resultando em mais de 50 detenções pela Polícia da República de Moçambique (PRM). Em junho, Momade apelou ao diálogo, mas críticos como Elias Dhlakama, irmão do falecido líder, advertem que a RENAMO vive "um dos momentos mais delicados da sua história".
A RENAMO, historicamente pivotal na oposição à FRELIMO, arrisca o colapso sem unidade, num contexto de protestos pós-eleitorais e instabilidade. O grupo parlamentar manifestou apoio unânime a Momade em junho, mas deputados descontentes permanecem em silêncio.
Sindicatos de ex-combatentes ameaçam novas ações se não houver um Conselho Nacional alargado. O Ministério da Justiça e o Conselho Constitucional são chamados a validar estas substituições, enquanto observadores internacionais monitoram para garantir estabilidade democrática.