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Funcionários da Rádio Moçambique em silêncio há dois meses após ameaças de revelar a verdade eleitoral


Quase dois meses após uma ameaça bombástica que abalou os corredores do poder em Moçambique, os funcionários da Rádio Moçambique (RM) optaram pelo silêncio em relação à divulgação de supostos boletins originais das eleições gerais, abrangendo os mandatos dos presidentes Filipe Nyusi e Daniel Chapo. A promessa, feita em agosto último como forma de pressão por melhores condições laborais, permanece sem cumprimento, levantando questões sobre as razões por trás dessa aparente retratação e os possíveis impactos na credibilidade da instituição pública de radiodifusão.

A controvérsia remonta a 5 de agosto de 2025, quando um grupo de trabalhadores da RM enviou uma carta-denúncia ao Gabinete de Informação (GABINFO), ao Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) e a outras entidades governamentais. No documento, os funcionários acusavam o governo de os tratar como "papel higiénico" e exigiam a atualização imediata do sistema de progressões de carreira, a harmonização salarial com outras empresas públicas, como a CFM, EDM e TVM, e a implementação de aumentos salariais retroativos a agosto, além de uma tabela salarial igualitária para 2025.

Em tom de ultimato, a carta alertava: "Dependendo da resposta que teremos vinda do GABINFO, em coordenação com os colegas da EDM, vai ocorrer o desligamento dos emissores em todo o país. Divulgaremos todos resultados dos boletins originais das eleições desde a era Nyusi até 2024". A menção a "fraudes eleitorais" desde o consulado de Nyusi (2015-2025) até ao de Chapo sugeria acesso a documentos internos que poderiam expor irregularidades em apurações de votos, um tema sensível num país marcado por contestações eleitorais recorrentes, como as de 2019 e 2024.

No entanto, à medida que setembro chega ao fim, não há registo de qualquer divulgação pública desses boletins, nem de desligamentos de emissores, nem de avanços concretos nas demandas salariais. Fontes internas da RM, contactadas sob anonimato, indicam que o silêncio pode dever-se a negociações discretas com o GABINFO, que em entrevistas à TVM de Gaza, em meados de agosto, prometia respostas até 10 de agosto, prazo que não se concretizou de forma transparente. "A Directora do GABINFO disse que até dia 10 dir-se-ia alguma coisa, se o governo pretende mandar aguardar, se o processo avança ou recua", recordava a carta original.

Analistas políticos veem nesta quietude um sinal de pressão interna ou externa sobre os funcionários. "A RM, como órgão estatal, depende diretamente do orçamento público. Revelar tais informações poderia não só comprometer carreiras, mas também desencadear investigações que atingem o cerne do poder FRELIMO", comentou um observador independente, sob condição de anonimato. O contexto pós-eleitoral de 2024, com acusações de fraude pela oposição e protestos que se estenderam a 2025, amplifica a gravidade da ameaça inicial, mas também os riscos de represálias.

O IGEPE, responsável pela gestão de participações estatais, incluindo a RM, não respondeu a pedidos de comentário até o fecho desta edição. Já o Ministério da Economia e Finanças, que supervisiona orçamentos públicos, tem priorizado outras emergências, como a recessão técnica registada nos primeiros trimestres de 2025, atribuída em parte à violência pós-eleitoral, com mais de 50 mil desempregados e um crescimento do PIB negativo de -3,92% no primeiro trimestre.

Esta saga salarial na RM não é isolada: em agosto, o Ministério da Economia anunciou a suspensão temporária de licenças para produção e venda de bebidas alcoólicas, gerando debates sobre impactos em produtores e comerciantes. Paralelamente, denúncias de corrupção na RENAMO em Nacala-Porto e suspensões de mineradoras em Manica por danos ambientais destacam um clima de tensão em instituições públicas e privadas.

Os funcionários da RM, através da carta, questionavam por que o enquadramento salarial em outras empresas do IGEPE ocorreu "sem sobressaltos e em menos tempo", enquanto na RM o processo "encalhou". Sem respostas oficiais, o silêncio atual alimenta especulações: seria uma vitória negocial ou uma rendição forçada?

Fonte: Jornal Visão Moçambique 

Redação: Índico Magazine 

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