Numa entrevista exclusiva e explosiva à Integrity News Magazine, conduzida pelo jornalista Omardine Omar, o político e ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane traçou um retrato duro e frontal do estado atual de Moçambique, no rescaldo das celebrações dos 50 anos da independência. Com declarações contundentes, Mondlane denunciou a captura do Estado por uma elite dirigente que, segundo ele, traiu os ideais da luta de libertação para servir a interesses privados e institucionais.
“Os heróis de ontem tornaram-se os tiranos de hoje. Os libertadores transformaram-se em opressores. Aqueles que outrora lutaram pela liberdade do povo, hoje são os seus carcereiros.”
Mondlane acusa o regime atual de ter implementado uma “era das trevas” logo após a independência, rasgando o Acordo de Lusaka e instaurando o partido único. Segundo ele, nesse período, liberdades fundamentais como culto, associação e expressão foram eliminadas — algumas delas até garantidas sob o colonialismo — e a repressão contra vozes discordantes foi brutal.
Com um discurso incisivo, Mondlane denuncia que a elite libertadora se apoderou dos recursos do Estado, beneficiando-se de privatizações e fomentando esquemas ilícitos.
“Começou o gangsterismo de Estado: tráfico de drogas, órgãos humanos, prostituição infantil, tráfico de influências. E tudo isso com o apadrinhamento de Joaquim Chissano.”
SUSTENTA: "Onde está o relatório final?"
Ao ser questionado sobre o fim do programa SUSTENTA, Mondlane levantou suspeitas de má-fé por parte do governo.
“O programa foi desenhado para durar até 2030. Se terminou antes, queremos saber porquê. Onde está o relatório técnico, financeiro e social? Isto parece uma manobra para travar a minha proposta de criar uma comissão parlamentar de inquérito sobre o SUSTENTA.”
Ele compara o governo a jogadores de Zoto, afirmando que decisões estão a ser tomadas de forma aleatória e sem transparência.
Dívidas ocultas: “Falta coragem e integridade”
Mondlane afirmou que os autores morais das dívidas ocultas continuam impunes, e criticou o governo por falta de coragem.
“O governo é ilegítimo, nascido da fraude. Falta coragem – como a de Nayib Bukele – e falta integridade. Temos leis suficientes para combater a corrupção. O que não temos é vontade política.”
Justiça e despartidarização do Estado
Sobre propostas de reforma, Mondlane defende a despartidarização total do Estado e uma justiça com autonomia real.
“Não podemos ter um sistema judicial chantageado pelo executivo. Em 2023, vimos magistrados anularem fraudes eleitorais — mas eles precisam de proteção institucional.”
Ele também aponta a necessidade de uma reforma fiscal profunda, reestruturação das Forças de Defesa e Segurança, e alianças estratégicas internacionais para reformas militares sérias.
Proposta para ser Inspector-Geral
Quando questionado sobre a possibilidade de assumir o cargo de Inspector-Geral do Estado, Mondlane respondeu sem rodeios: “Aceitaria, sim — mas só se tiver autonomia total, inclusive para levar o Presidente à barra da justiça. Caso contrário, que fiquem com o cargo para os seus jogos políticos.”
Reconciliação e perseguições políticas
Mondlane também fez críticas duras ao que considera ser a ausência de uma verdadeira reconciliação nacional: “Tivemos tratados e acordos com Dhlakama e Ossufo, mas nunca houve reconciliação genuína. O Presidente atual é intransigente, radical e persegue até manifestantes. A esperança que muitos depositaram nele evaporou-se.”
Sobre as perseguições judiciais e políticas de que é alvo, Mondlane revelou viver atualmente de forma precária, com a fé como sustento: “Vivo da misericórdia de Deus. Já não posso abrir empresa, dar aulas, e até perdi o meu emprego no BIM. As ameaças de morte já não me assustam. Como diz a Bíblia em Romanos 8:18: ‘As aflições deste tempo presente não se comparam com a glória que há de vir’.”
ANAMALALA: o futuro político
Sobre o seu novo projeto político, Mondlane foi enigmático quanto ao nome, mas garantiu que tudo já foi submetido e regularizado: “Corrigimos o que havia a corrigir. Quanto ao nome… é segredo de justiça! Fizemos um pacto entre três pessoas. Só revelaremos quando os papéis estiverem aprovados.”
PGR e o risco de prisão: "A próxima entrevista pode ser na BO"
Na parte final da entrevista, Mondlane comentou com ironia o fato de ter de comparecer novamente à Procuradoria-Geral da República no dia seguinte: “Pode ser que a próxima entrevista aconteça na BO. Na última vez, fui interrogado por 10 horas sem saber de que crime sou acusado. Já arrolámos testemunhas importantes como Bernardino Rafael, Dom Carlos Matsinhe e Lúcia Ribeiro. O processo só está a começar.”
Com esta entrevista, Venâncio Mondlane reforça a sua posição como uma das vozes mais críticas do sistema político moçambicano, colocando-se como alternativa combativa e disposta a desafiar o status quo. A contundência das suas palavras promete reacender o debate nacional sobre justiça, reconciliação, transparência e liberdade.
Contacte a NTEGRITY – MOÇAMBIQUE, para obter o conteúdo completo da entrevista exclusiva com Venâncio Mondlane divulgada hoje, dia 30 de Junho. 72ª Edição: info@integritymagazine.co.mz .