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Professor é suspenso em Zavala por se recusar a cortar o cabelo — David Fardo e Flash Enche criticam a decisão da direção da escola


Um professor da Escola Secundária de Mavila, no distrito de Zavala, província de Inhambane, foi suspenso das suas funções por três dias úteis por se recusar a cortar o cabelo, em desacordo com o regulamento interno da instituição. O caso tem gerado indignação nas redes sociais, sendo interpretado por muitos como um exemplo de perseguição estética e violação da liberdade individual.

Reginaldo Arnaldo Mangue, leciona Língua Inglesa, professor da Escola Secundária de Mavila, no distrito de Zavala, província de Inhambane.

O docente em causa, Reginaldo Arnaldo Mangue, leciona Língua Inglesa desde 2024. Segundo o despacho assinado pelo diretor da escola, Absalome Simião Beleque, a suspensão baseia-se no artigo 11, ponto 21 do regulamento interno, que exige que os professores se apresentem “com cabelos curtos e bem arranjados”. A decisão foi tomada após o docente ter sido advertido em reuniões com a direção da escola e com a Comissão de Ética, tendo o mesmo mantido a sua posição de não cortar o cabelo por razões pessoais.

"Não é o cabelo que define a qualidade do ensino", afirma David Fardo

A medida despertou críticas severas de figuras públicas. O ativista social e investigador David Fardo condenou o ato, classificando-o como um retrocesso na valorização do profissional da educação.

Acho que o diretor Absolome Simião Beleque deve viajar um pouco pelo mundo, inclusive o conselho de escola. Não é o cabelo que define a qualidade do ensino. No mundo fora, dá-se primazia ao conhecimento que o formador tem a partilhar com os alunos. A ética vai muito além de um simples corte de cabelo. Deviam, no mínimo, encontrar outro motivo. Mas cabelo, NÃO.”

Rapper Flash Ency: “Meu cabelo, minha identidade

Também o rapper moçambicano Flash Ency se pronunciou sobre o caso, apontando a persistência de práticas autoritárias e preconceituosas no sistema educativo.

A classe docente sofre muita perseguição por conta do cabelo. Pelo pão, ficamos com medo de perder o emprego e a profissão que gostamos. Sonhamos com um dia em que possamos ultrapassar essas barreiras e sermos nós mesmos, sem princípios colonialistas dizendo quem devemos ser. Nós somos africanos porque vivemos isso, está no DNA. MEU CABELO, MINHA IDENTIDADE. MEU CABELO É MINHA MARCA.”

O episódio tem reacendido o debate sobre os limites da autoridade institucional frente aos direitos individuais no ambiente escolar. Para muitos, a exigência de padrões estéticos rígidos reflete uma visão conservadora, ainda enraizada em modelos herdados do colonialismo, que desconsideram a diversidade cultural e a evolução das normas sociais.

Juristas e pedagogos ouvidos pela nossa redação alertam que os regulamentos internos das instituições de ensino não devem contrariar os princípios fundamentais da Constituição da República de Moçambique, que garante a liberdade de expressão e identidade individual.

Até o momento, a direção da escola não se pronunciou oficialmente sobre a repercussão pública da medida. Também não há confirmação sobre eventuais medidas administrativas futuras nem se o professor Reginaldo Mangue pretende recorrer da decisão.

Redação: Índico Magazine