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Escândalo de desvio de doações: Ex-primeira-dama Isaura Nyusi e Alto Comissariado de Moçambique em Londres acusados


Um escândalo envolvendo o desaparecimento de doações destinadas a pessoas com deficiência em Moçambique está a abalar a credibilidade do Alto Comissariado de Moçambique em Londres e a manchar a imagem da ex-primeira-dama Isaura Nyusi. Denúncias públicas e relatos detalhados indicam que cadeiras de rodas, suplementos médicos e outros equipamentos doados pela comunidade moçambicana no Reino Unido teriam sido desviados para fins políticos, deixando os verdadeiros beneficiários sem apoio.

Em abril de 2023, a comunidade moçambicana em Londres mobilizou-se para angariar recursos destinados a pessoas com deficiência nas cidades de Maputo e Xai-Xai. Entre os itens doados estavam:
  • Cadeiras de rodas (incluindo uma destinada a um jovem paraplégico em Maputo);
  • Suplementos médicos;
  • Equipamentos para uma clínica dentária em Xai-Xai.

Os materiais foram entregues ao Alto Comissariado de Moçambique no Reino Unido, liderado pela Alta Comissária Albertina Mac Donald, com a promessa de que seriam enviados para Moçambique. No entanto, meses depois, as doações simplesmente desapareceram.

Uma das denúncias mais graves envolve uma cadeira de rodas destinada a um jovem paraplégico em Maputo. Segundo fontes próximas ao caso, a cadeira teria sido desviada para a Cidade da Beira, onde foi entregue num evento público ligado ao gabinete da ex-primeira-dama Isaura Nyusi.

A comunidade doou a cadeira com um destinatário específico, mas ela acabou noutro lugar, num acto claramente político”, denunciou Maria das Neves Caleal, uma das organizadoras da doação.

Quando questionada, a Alta Comissária Albertina Mac Donald alegou que os materiais "se perderam no envio", mas não apresentou qualquer documentação que comprovasse o transporte ou a entrega.

Alta Comissária Albertina Mac Donald.

Perante a pressão, o Alto Comissariado teria oferecido uma cadeira de segunda mão para substituir a original, o que foi rejeitado pela doadora, que exigia o mesmo equipamento doado ou um idêntico.

"Não se trata apenas de uma cadeira, mas da dignidade de quem precisa. Se doamos algo específico, é porque há uma necessidade real", afirmou Maria das Neves.

Além da cadeira de rodas, duas outras cadeiras e suplementos médicos (que encheram uma pickup de uma tonelada) também nunca chegaram a Xai-Xai. A clínica dentária que aguardava os equipamentos continua sem resposta.

A falta de transparência levou a protestos entre os moçambicanos na diáspora. Lopes Quichine Ticarume Matasa, membro-fundador de organizações comunitárias, exigiu explicações públicas:

Isto não é apenas incompetência, é má-fé. Se doações para os mais vulneráveis são desviadas, em quem podemos confiar?" 

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A ligação da ex-primeira-dama ao caso surge a partir de relatos de que a cadeira desviada teria sido usada num evento político na Beira. Se confirmado, o escândalo pode ter repercussões sérias, já que utilizar doações humanitárias para promoção política é ilegal e imoral.

O jornal Evidências contactou o Alto Comissariado em Londres, mas até agora nenhuma explicação oficial foi fornecida. A ex-primeira-dama também não se pronunciou sobre as acusações.

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