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Ativista político Jonathan Sulemane sofre atentado de morte em Quelimane


Jonathan Sulemane, o jovem que percorreu mais de 1.500 km a pé entre Quelimane e Maputo para participar na marcha de 7 de Novembro de 2024, convocada por Venâncio Mondlane, foi alvo de uma tentativa de assassinato na noite desta sexta-feira (27), nas imediações da sua residência. O ataque reacende os alertas sobre o agravamento da repressão contra jovens ativistas em Moçambique.

De acordo com testemunhas e familiares, Jonathan foi brutalmente agredido por indivíduos não identificados por volta das 21h00. Os atacantes, armados com catanas e barras de ferro, feriram-no com gravidade e fugiram sem levar quaisquer bens pessoais — facto que levanta sérias suspeitas de que o ataque tenha tido motivações políticas.





Sulemane tornou-se um ícone da resistência juvenil após percorrer, durante mais de um mês, o longo trajeto de Quelimane a Maputo, como forma de protesto pacífico e apoio à marcha antigovernamental liderada por Mondlane, porém foi impedido de entrar em Maputo. A manifestação, que teve lugar em 7 de Novembro, foi proibida pelas autoridades, mas ainda assim reuniu milhares de jovens em várias cidades do país, num contexto de forte contestação ao processo eleitoral e à governação da FRELIMO.

O atentado acontece menos de dois meses depois de o jovem ter sido convocado pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), no dia 5 de Maio, para prestar declarações. A convocatória foi tornada pública por Jonathan nas redes sociais, onde publicou a mensagem enigmática:
O povo foi testemunha do meu silêncio. Após o meu regresso da viagem a Maputo, fiquei no meu canto, e hoje é o Ministério Público que acordou o dragão adormecido com entretanto.”


A publicação foi amplamente interpretada como o prenúncio de um novo ciclo de intervenção política por parte do jovem ativista, reavivando o debate sobre a liberdade de expressão e o espaço para a juventude crítica em Moçambique.

Jonathan integrava um grupo de 17 jovens que decidiu caminhar até à capital em apoio à candidatura de Venâncio Mondlane à Presidência da República. A jornada, no entanto, foi abruptamente interrompida no distrito da Macia, província de Gaza, quando ele e dois companheiros foram detidos pela Polícia da República de Moçambique (PRM). Os próprios denunciaram ter sido maltratados, privados dos seus telemóveis e forçados a regressar a Quelimane, sob custódia policial. Durante o tempo em que estiveram incomunicáveis, proliferaram rumores sobre o seu desaparecimento, gerando comoção nacional e atenção internacional.

Até ao momento, a PRM na província da Zambézia não se pronunciou oficialmente sobre a tentativa de homicídio. Organizações nacionais e internacionais de direitos humanos exigem uma investigação célere, imparcial e transparente. Para muitos, o silêncio das autoridades pode ser interpretado como indiferença ou até cumplicidade.

A situação de Jonathan Sulemane é mais um capítulo de um cenário político cada vez mais hostil à dissidência, onde jovens ativistas se tornam alvos visíveis num sistema que aparenta ter pouca tolerância à oposição organizada fora dos canais tradicionais.

Redação: Índico Magazine