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Venâncio Mondlane ouvido hoje na PGR por incitamento à desobediência coletiva: “A PGR sente saudades de mim”


O ex-candidato presidencial e líder do movimento VM7, Venâncio Mondlane, foi hoje ouvido pela Procuradoria-Geral da República (PGR), num episódio que combinou tensão política, forte mobilização popular e repressão por parte das forças de segurança.


Convocado para prestar declarações às 09h00 no âmbito do processo nº 773/11/P/2024, Mondlane permaneceu cerca de duas horas no interior da PGR, sendo interrogado, segundo suas palavras, a respeito de um áudio que circula nas redes sociais, no qual manifesta a intenção de retirar a sua família do país. Perante a imprensa, admitiu a autenticidade da gravação, minimizando o conteúdo: “Era mesmo eu, sim, e falava sobre proteger a minha família. Não há mais nada por trás disso.

À saída do interrogatório, Mondlane fez declarações contundentes à imprensa e aos apoiantes que o aguardavam desde as primeiras horas da manhã. Acusou a PGR de perseguição política e ironizou a insistência com que é convocado pelas autoridades judiciais: “Parece que a PGR sente saudades de mim. Se me querem encontrar, sabem onde estou. Nunca estive em parte incerta.”


Apontando o dedo ao Ministério Público, denunciou uma tentativa deliberada de torná-lo o único culpado da crise pós-eleitoral que se instalou em Moçambique após as eleições gerais de 2024. “Estamos perante uma tentativa desesperada de gravitar toda a crise no Venâncio, quando há culpados claros no seio do sistema. A Amnistia Internacional já denunciou violações graves cometidas pelas forças policiais, mas até hoje, nenhum agente foi responsabilizado.”

Defendeu que a crise é “multifacetada” e criticou a atuação seletiva da justiça, que, segundo ele, ignora os verdadeiros responsáveis pelos atos de violência e repressão ocorridos durante e após o processo eleitoral.


Questionado sobre o seu papel no Conselho de Estado, Mondlane afirmou tratar-se de um mandato popular. “Mais de 87% de 10 mil pessoas consultadas ordenaram, não pediram, que eu estivesse lá.” Disse ainda que já submeteu propostas para mudanças concretas no órgão e alertou para a aparente hesitação do Presidente Daniel Chapo em cumprir os acordos anteriormente firmados. “Chapo está a ser mandado para mandar. Mas os acordos devem ser cumpridos com urgência.”

No exterior da PGR, milhares de apoiantes aguardavam Mondlane desde cedo. À sua saída, foi recebido em festa, com cânticos e palavras de ordem. Uma marcha espontânea percorreu as ruas próximas, mobilizando cidadãos que deixaram os seus postos de trabalho para se juntar ao cortejo. O ambiente de celebração, contudo, foi interrompido por disparos: um de gás lacrimogéneo e dois com munição real, efetuados por agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM). Não há registo de feridos, mas a tensão foi evidente.

Diante da escalada da situação, Mondlane teve de entrar rapidamente na sua viatura, protegido por apoiantes. Uma viatura Mahindra da PRM aproximou-se perigosamente do seu carro, obrigando o motorista a acelerar e abandonar o local sob ameaça de novos disparos.

O episódio reforça a centralidade de Mondlane no atual cenário político moçambicano, marcado por forte contestação ao governo e apelos à reforma profunda do sistema. Com a legalização do partido político ANAMALALA a ser decidida nos próximos sete dias, as atenções voltam-se para os desdobramentos que poderão redefinir a oposição em Moçambique.


O clima no país permanece instável, e Venâncio Mondlane mantém-se como uma figura polarizadora, mas com apoio crescente entre os descontentes com a atual ordem política.

Redação: Índico Magazine